Saúde do intestino e problemas de pele: como um influencia o outro?
Muito se fala em skin care, a rotina de beleza e cuidados com a pele. Mas sabia que para ter uma pele bonita e saudável você deve olhar também para o seu intestino? É isso mesmo, a relação entre intestino e problemas de pele é real e oficial1!
Te explicamos mais sobre o tema a seguir e ainda separamos algumas dicas para manter pele e intestino saudáveis!
Qual é a relação entre o intestino e os problemas de pele?
Essa relação existe porque ambos, intestino e pele, são, em diversos pontos, parecidos. Ambos são cobertos de muitos vasos, povoados por comunidades microbianas diferentes e atuam como interfaces vitais entre o corpo humano e o ambiente externo. Então, quando há alteração em um, não é de espantar que o outro sinta os efeitos também1.
Para entender melhor a ligação entre intestino e problemas de pele precisamos falar sobre microbiota intestinal, que nada mais é do que a população de bactérias e outros microrganismos que ali, naquela situação, atuam para nos proteger, formando um verdadeiro escudo que filtra o que será absorvido e combate o que não é positivo para nosso corpo1,2.
O equilíbrio da microbiota intestinal, também conhecida como flora intestinal, irá refletir em nossa saúde como um todo. Para começar, pense na digestão. Certos componentes da microbiota ajudam a decompor os alimentos e, com isso, contribuir para que o corpo tenha acesso a vitaminas e nutrientes essenciais1.
Mas esse é, digamos, o básico, e já vamos chegar ao que interessa: intestino e problemas de pele. A microbiota também tem papel fundamental no sistema imunológico (saiba mais sobre a relação intestino e imunidade)1.
Diante de alguma ameaça o intestino pode sofrer os impactos e isso também pode resultar em alterações hormonais e até inflamação1 - que por sua vez podem se tornar problemas na pele.
Ainda vale dizer que qualquer coisa que afete a microbiota intestinal e cause disbiose (desequilíbrio da microbiota), irá afetar o corpo de forma sistêmica e, portanto, pode afetar a pele também1.
Quando há disbiose, há um comprometimento na absorção de macro e micronutrientes1. Com isso, podem faltar vitaminas e minerais essenciais para o organismo e também para manter a pele saudável.
Dieta, intestino e pele: como todos estão envolvidos?
Uma dieta pobre e desbalanceada, ou mesmo quadros de intolerâncias alimentares (como é o caso da intolerância à lactose), podem alterar a estrutura e a fisiologia da microbiota e do tecido que reveste internamente o intestino1.
Com isso, há um prejuízo na absorção de nutrientes e pode ocorrer ainda absorção de "microrganismos, seus metabólicos e moléculas alimentares de alto potencial inflamatório, que podem circular sistemicamente e atingir a pele"1.
Para evitar esse tipo de reação alérgica em seu organismo, é importante dar preferência a alimentos naturais, normalmente menos inflamatórios. Na prática, significa privilegiar a presença de alimentos como frutas, verduras e legumes em sua dieta.
Estresse x alterações intestinais
O estresse pode provocar alterações físicas - há quem fique constipado ou tenha diarreia por causa do estresse - e mudanças na microbiota. E uma "microbiota alterada leva a um desequilíbrio de neurotransmissores que agem diretamente no estado de ânimo do indivíduo e na pele, através de receptores cutâneos"1.
Além disso, há décadas já se comenta que as emoções podem mexer com a microbiota, com o funcionamento do intestino e ainda contribuir para uma inflamação sistêmica1.
Vale lembrar que a mesma substância P (neuropeptídeo) que age no sistema nervoso como neurotransmissor em casos de ansiedade e de estresse, também está envolvida em questões relacionadas à pele, como as inflamações1.
Uso de antibióticos e a microbiota
Ainda falando sobre fatores que alteram a microbiota intestinal - e, por consequência, levam a todas as questões citadas e explicam a relação do intestino com os problemas de pele - chegamos ao uso de antibióticos1.
São medicamentos importantes, que devem ser usados sob prescrição médica. Entretanto, além de combater as bactérias nocivas, eles podem levar embora as bactérias boas também3. O resultado você já imagina, não é mesmo? Desbalanço na microbiota e tudo que está relacionado a isso.
Problemas intestinais podem causar acne?
Quando falamos sobre a relação entre intestino e problemas da pele, uma dúvida que pode surgir é: problemas intestinais causam acne? Em alguns casos, sim.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), acne é o nome dado a cravos e espinhas que surgem devido a um processo inflamatório das glândulas sebáceas (aquelas que produzem sebo, substância que ajuda a evitar o ressecamento e a perda de água pela pele) e dos folículos pilossebáceos (folículo piloso associado à glândula sebácea)4.
Acne é algo que incomoda muitos os adolescentes, mas que pode durar até a vida adulta, principalmente em mulheres. As lesões na pele com acne aparecem com mais frequência no rosto, mas também podem ser vistas nas costas, nos ombros e no peito4.
A SBD ressalta que os hormônios sexuais, que começam a ser produzidos pelo organismo na puberdade, são os principais responsáveis por diversas alterações na pele, incluindo a acne. O quadro ainda pode piorar diante de estresse ou no período menstrual4.
Mas há quem relacione a acne vulgar a questões alimentares5. E aqui chegamos à resposta se problemas intestinais causam acne ou não.
Segundo estudo feito com base em uma ampla pesquisa bibliográfica, uma dieta que tenha uma baixa quantidade de fibras e, ao mesmo tempo, seja rica em gorduras pode provocar alterações significativas na microbiota intestinal5.
Como afirma o texto final desse trabalho, isso pode resultar em "doenças metabólicas e inflamatórias como, por exemplo, desenvolvimento da acne vulgar devido a proliferação da P. acnes (bactéria que causa espinhas)5".
O mesmo estudo aponta para uma relação importante entre o alto consumo de alimentos com muita glicose e o surgimento de acne. Isso porque, esse cenário acaba induzindo o corpo a produzir mais insulina que, por sua vez, aumenta a proliferação de sebócito, a célula responsável pela produção de sebo, o grande vilão de quem sofre com as espinhas5.
Os derivados de leite, apesar de baixo teor calórico, também podem induzir a produção de um outro composto, chamado IGF-1, muito semelhante à insulina e que, portanto, pode contribuir também para o surgimento de acne5.
Resumindo, cuidar da saúde intestinal e seguir uma boa alimentação significa também cuidar da pele, inclusive da pele com acne.
Saúde intestinal e outros problemas de pele
São diversos os distúrbios gastrintestinais os quais os sinais podem aparecer na pele. Entre eles, podemos citar1:
- doença inflamatória intestinal (pode provocar lesões bucais, pioderma gangrenoso, entre outras manifestações cutâneas)1;
- doença celíaca (pode estar relacionada a dermatite, alopecia, vitiligo, entre outras)1;
- psoríase (encontrada com mais frequência em quem sofre com a doença de Crohn do que em pessoas saudáveis, por exemplo)1.
E aqui fica um destaque para relação entre o intestino e condições de pele como rosácea, dermatite atópica e psoríase. Há evidências de que todas essas manifestações podem ter relação com a disbiose1.
E agora, como cuidar da pele e do intestino?
Depois de tudo o que aprendemos sobre intestino e problemas de pele é hora de pensar em solução. E uma delas aposto que você já imagina qual seja: cuidar da alimentação!
Escolhendo alimentos bons para a pele
Quando pensamos em alimentos bons para a pele, devemos incluir no cardápio aqueles que são ricos em fibras e vitaminas, cereais integrais e vegetais. Doces, gorduras e alimentos ultraprocessados devem ser evitados6.
A vitamina A é uma das protagonistas ao falarmos de alimentação para uma pele saudável, pois trata-se de um dos nutrientes de maior importância para a pele. Ela atua ativamente contra o envelhecimento, evita a descamação e a desidratação da sua derme6.
Já a vitamina C, as vitaminas do complexo B e o zinco também devem ser lembrados. Eles agem melhorando o aspecto externo da pele6. Há ainda as vitaminas E, D, e nutrientes como o cobre, o magnésio, entre outros7.
Todos esses compostos irão ajudar na proteção da pele, na cicatrização, na produção de componentes importantes como a melanina, na regulação do crescimento das células, na resposta anti-inflamatória e no combate do envelhecimento, além de outros benefícios7.
Para completar a lista de alimentos bons para a pele, lembre-se daqueles que são fonte de ômega 3, substância que tem ação
anti-inflamatória6.
Quer saber mais sobre alimentação e saúde intestinal? Veja o que são alimentos reguladores e como incluí-los na dieta.
Beber água é essencial
Água, essa substância tão importante em nossas vidas, se faz imprescindível nessa dinâmica entre intestino e problemas de pele8.
Todo nosso organismo é composto por células, que por sua vez contêm uma boa quantidade de água. Sem água, logo sentimos os sinais da desidratação. E quando o assunto é pele, notamos que ela fica mais ressecada, áspera e perde a elasticidade8.
E para dar uma forcinha a mais, evite banhos quentes prolongados, use produtos adequados para sua pele, deixe de lado o cigarro e reduza o consumo de bebidas alcóolicas8.
Uso de probióticos
Fala-se também do uso de probióticos para algumas doenças dermatológicas, como a acne grave. Segundo artigo publicado na edição de janeiro de 2023 da revista científica eletrônica BWS Journal, eles podem "contribuir para o equilíbrio da microbiota da pele, auxiliando significativamente na redução da inflamação da acne"9.
Além do potencial para cuidar da acne9, um trabalho científico espanhol, publicado no periódico Microorganisms, ainda afirma que o uso de probióticos orais para o controle da psoríase tem trazido resultados animadores como tratamento adjuvante dessa doença de pele – ainda que mais estudos sejam necessários para melhor compreender os impactos10.
O mesmo vale para a rosácea: embora uma maior quantidade de pesquisas seja fundamental para cravar os efeitos dos probióticos nessa condição, a revista Surgical & Cosmetic Dermatology, publicação da Sociedade Brasileira de Dermatologia, menciona que os pacientes podem ser aconselhados a adotar medidas para ter um intestino saudável, como consumir uma dieta rica em prebióticos e modular a microbiota intestinal com probióticos orais, com prescrição médica11.
É importante dizer que para saber mais sobre os problemas de pele e o intestino, é fundamental consultar um médico. O dermatologista vai analisar seu quadro e, junto com você, buscar compreender o que está por trás do seu problema de pele e indicar os melhores tratamentos.
1. Calatayud PA, Rolim LM, Soranz MA, et al. O papel do intestino nas doenças dermatológicas: Revisão de literatura. BWS Journal. Disponível em: https://bwsjournal.emnuvens.com.br/bwsj/article/view/56/59. Acesso em 12 de junho de 2023.
2. Cohut M. Human microbiota: The microorganisms that make us their home. Medical News Today. Disponível em: https://www.medicalnewstoday.com/articles/human-microbiota-the-microorganisms-that-make-us-their-home. Acesso em 12 de junho de 2023.
3. Healthline. What you Need to Know About Antibiotics and Diarrhea. Disponível em: https://www.healthline.com/health/antibiotics-diarrhea. Acesso em 22 de junho de 2023.
4. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Acne. Disponível em: https://www.sbd.org.br/doencas/acne/. Acesso em 12 de junho de 2023.
5. Lomas JK, Lima DC, Araújo L, et al. Relação da Microbiota Intestinal no desenvolvimento da Acne vulgaris. Uniandrade. Disponível em: https://revista.uniandrade.br/index.php/IC/article/view/2260. Acesso em 12 de junho de 2023.
6. Kumm EC, Lorenzoni R, Machado MA, et al. Alimentação eficaz para uma pele saudável. Universidade da Cruz Alta. Disponível em: https://home.unicruz.edu.br/seminario/anais/anais-2018/XXIII%20SEMINARIO%20INTERINSTITUCIONAL/Ciencias%20Biologicas%20e%20da%20Saude/Mostra%20de%20Iniciacao%20Cientifica%20-%20RESUMO/ALIMENTAÇÃO%20EFICAZ%20PARA%20UMA%20PELE%20SAUDÁVEL.pdf. Acesso em 12 de junho de 2023.
7. Dias AMPSP. Nutrição e a Pele. Universidade do Porto. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/54741/3/120815_0819TCD19.pdf. Acesso em 12 de junho de 2023.
8. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Veja quais os estragos que a falta de água pode fazer na pele das pessoas. Disponível em: https://sbdfl.org.br/noticias/veja-quais-os-estragos-que-a-falta-de-agua-pode-fazer-na-pele-das-pessoas/. Acesso em 12 de junho de 2023.
9. Santana LR. Acne Grave e o Uso de Probióticos: uma Revisão de Literatura. BWS Journal. Disponível em: https://bwsjournal.emnuvens.com.br/bwsj/article/view/389. Acesso em 12 de junho de 2023.
10. Navarro-López V, Núñez-Delegido E, Ruzafa-Costas B et al. Probiotics in the Therapeutic Arsenal of Dermatologists. Microorganisms. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8303240/#B73-microorganisms-09-01513. Acesso em 3 de agosto de 2023.
11. Kalil CLPV, Chaves C, De Vargas AS et al. Uso dos Probióticos em Dermatologia - Revisão. Surgical & Cosmetic Dermatology. Disponível em: http://www.surgicalcosmetic.org.br/details/787/pt-BR. Acesso em 3 de agosto de 2023.
MAT-BR-2303392. Agosto/2023.