O que é o supercrescimento bacteriano (SIBO)?

SIBO é a sigla em inglês para supercrescimento bacteriano do intestino delgado - 
small intestinal bacterial overgrowth. É um distúrbio gastrointestinal caracterizado pelo excesso e desequilíbrio de bactérias no intestino delgado, órgão responsável pela absorção dos nutrientes 1

E aqui estamos falando de bactérias que, comumente, não são encontradas nessa parte do corpo 2. Inclusive, a quantidade de bactérias nessa parte do intestino é bastante reduzida, uma vez que a secreção de ácido gástrico e a motilidade intestinal limitam o supercrescimento de bactérias no local 3.

Entretanto, quando há algo errado e esses mecanismos de defesa falham, pode ocorrer o supercrescimento bacteriano, ou seja, um quadro de SIBO. E esse distúrbio pode resultar em complicações como:

  • má absorção de gorduras, carboidratos e proteínas 2
  • deficiência de vitamina, que pode acarretar sérios problemas e danos irreversíveis no sistema neurológico 2
  • osteoporose, devida a má absorção de cálcio 2
  • pedra nos rins 2.

Causas do SIBO

A falha mencionada acima e o consequente crescimento das bactérias no intestino delgado podem acontecer por diversas razões. Estas são algumas das possibilidades a serem avaliadas:

  • problemas estruturais no intestino delgado 4;
  • mudanças no pH local 4;
  • mau funcionamento do sistema imunológico 4
  • atividade muscular do intestino delgado comprometida, o que pode fazer com que alimentos e bactérias não sejam removidos do órgão 4.

Além disso, o supercrescimento bacteriano do intestino delgado pode estar associado a outras condições, como: 

  • gastroenterite viral 4;
  • doença celíaca 4;
  • doença de Crohn 4;
  • hipocloridria (falta de secreção ácida no estômago) 4;
  • gastroparesia (condição em que o alimento demora para fazer sua passagem do estômago para o intestino) 4;
  • cirrose 4;
  • danos nos nervos 4;
  • hipertensão portal (aumento da pressão na veia que transporta o sangue até o fígado) 4;
  • síndrome do intestino irritável 4;
  • procedimentos de bypass gástrico (para redução do estômago) 4
  • cirurgias que provocam estenoses ou aderências 4

Quais são os sintomas do SIBO?

Os sinais e sintomas de SIBO costumam abranger:

  • perda de apetite;
  • dor abdominal 2;
  • náusea 2;
  • inchaço 1,2;
  • distensão abdominal 1;
  • sensação desconfortável de saciedade depois de comer 2;
  • formação de gases 1;
  • diarreia 1,2;
  • perda de peso 2;
  • desnutrição 2.

Como é feito o diagnóstico do SIBO?

Os sintomas de SIBO mais típicos são bastante genéricos e podem se confundir com outros problemas gastrointestinais 1. Daí a importância de ter uma boa conversa com seu médico para que ele faça uma investigação completa do seu caso. 

Para diagnosticar o supercrescimento bacteriano no intestino delgado, alguns testes podem ser solicitados pelo especialista. Eles ajudam a diagnosticar o SIBO, podem indicar baixa absorção de gordura e outros problemas que podem estar relacionados com os sintomas listados 2. Veja os detalhes. 
 

Homem realiza teste de respiração para diagnosticar SIBO

Teste de respiração

O teste de respiração, apesar de ser menos específico que outros tipos de exames solicitados, é um formato amplamente disponível. Ele serve para medir a quantidade de hidrogênio ou metano expirado depois de beber uma mistura de glicose e água 2.

Resultados que mostram rápido aumento das substâncias gasosas exaladas podem indicar SIBO, já que pessoas que têm esse distúrbio costumam apresentar maiores quantidades de hidrogênio e metano no ar expirado 2
 

Aspirado de intestino delgado e cultura de líquido

Outra possibilidade de teste é o aspirado de intestino delgado e cultura de líquido, por meio de endoscopia 2.

Para esse procedimento, um tubo longo e flexível é inserido na garganta do paciente. O objetivo é que ele atravesse o trato digestivo superior e chegue até o intestino delgado para que uma amostra do fluido intestinal seja coletada. Feito isso, o crescimento de bactérias pode ser analisado 2

Apesar de ser um método mais invasivo, é considerado o teste de ouro para o diagnóstico do distúrbio 2

Outros exames

Paralelamente a esses testes podem ser feitos exames de sangue para identificar deficiência de vitaminas, uma vez que um dos perigos do SIBO é justamente a perda de nutrientes importantes, e avaliação de fezes para checar a má absorção de gordura 2

Até exames de imagem, como raio-X, tomografia computadorizada e ressonância magnética, que ajudam na busca de alterações na anatomia do intestino, podem ser solicitados 2.

Apesar de ser um método mais invasivo, é considerado o teste de ouro para o diagnóstico do distúrbio 2

SIBO x alimentação: qual é a relação?

Como já comentamos por aqui, o SIBO tem uma forte ligação com a má digestão e a má absorção de nutrientes 1. Por isso, fazer escolhas alimentares inteligentes faz parte de uma boa conduta para conviver melhor com essa condição. 

Alimentos que devem ser evitados na dieta SIBO

A dieta com baixo teor de FODMAPs (sigla para certos tipos de carboidratos que não são digeridos pelo organismo e podem causar desconforto intestinal) é uma das mais conhecidas para SIBO 1.

Ainda que os dados sobre sua eficácia sejam baseados no manejo da síndrome do intestino irritável 1, é importante entender que pessoas que sofrem com essa condição geralmente também são vítimas do SIBO. Nesse sentido, eliminar ou reduzir alimentos ricos nesses carboidratos pode auxiliar na melhora da saúde digestiva 5

Para diminuir o consumo de FODMAPs na dieta SIBO, evite ingerir frutose (açúcar encontrado nas frutas, no mel e em alguns vegetais), lactose (proveniente do leite e seus derivados), frutanos (presente em produtos com glúten, frutas e alguns vegetais), galactanos (carboidratos que estão em algumas leguminosas) e polióis (muito usado como adoçante) 5.

Logo, considere reduzir ou eliminar da sua dieta os alimentos com maiores quantidades de FODMAPs, como:

xarope de milho rico em frutose 5;

  • néctar de agave 5;
  • mel 5;
  • refrigerantes 5;
  • alho 5;
  • cebola 5;
  • aspargos 5;
  • abóbora 5;
  • couve-flor 5;
  • alcachofra 5;
  • feijão 5;
  • maçã 5;
  • frutas secas 5;
  • salsicha 5;
  • iogurte com sabor 5;
  • sorvete 5;
  • cereais açucarados 5;
  • cevada 5;
  • centeio 5;
  • grãos 5;
  • ervilha 5

Alimentos liberados na dieta SIBO

Os alimentos com baixas quantidades de FODMAPs podem ser considerados parte de uma boa conduta alimentar — desde que consumidos em pequenas porções. Eles incluem alimentos ricos em fibras e com baixo teor de açúcar, como5:

  • carne 5;
  • peixe 5;
  • ovos 5;
  • aveia 5;
  • cereais sem açúcar (feito de grãos com baixo teor de FODMAPs) 5;
  • folhas verdes 5;
  • cenoura 5;
  • batata 5;
  • abóbora 5;
  • quinoa 5;
  • sementes 5;
  • frutas como laranja, mirtilo, morango e uva 5.

Mas vale o alerta: antes de bater o martelo e seguir qualquer dieta, é indispensável contar com orientação especializada para entender as particularidades da sua condição e, junto ao profissional, definir o plano alimentar mais adequado para o seu caso. 
 

Tratamento para SIBO

O manejo da doença começa com uma dieta equilibrada, que reduz ou elimina os carboidratos difíceis de digerir e pode ajudar a reduzir a inflamação no trato digestivo e o supercrescimento bacteriano do intestino delgado. 

Mas será o bastante? Será que o supercrescimento bacteriano tem cura? 

Para muitas pessoas, o tratamento inclui o uso de antibióticos para erradicar o excesso de bactérias no intestino delgado 2

Apesar dessa ser uma medida eficaz, o distúrbio pode retornar em cerca de 45% dos casos após o uso do medicamento 3, o que pode levar a um tratamento de longo prazo, em que novos ciclos de antibióticos (os mesmos ou alternados) podem ser necessários 2

Mas é a identificação das causas por trás do SIBO que realmente pode fazer a diferença na abordagem para um tratamento para supercrescimento bacteriano mais assertivo e eficaz6. 

Em casos de suspeitas de distúrbios na motilidade (movimentos anormais e alterados no sistema gastrointestinal), por exemplo, agentes que ajudam a estimular o processo e a regularizar esses movimentos podem ser prescritos. Problemas estruturais, por sua vez, podem ser corrigidos com cirurgia 6.

Além disso, como o SIBO pode causar deficiências nutricionais, o tratamento recomendado pelo médico também pode focar no suporte nutricional e na suplementação de vitaminas (como a B1, B3, B12, ferro e outras vitaminas lipossolúveis3) e minerais 6

E os probióticos para SIBO, funcionam?

Os probióticos são microrganismos vivos que agem em diversos mecanismos, como na modulação da microbiota intestinal, na manutenção da integridade do epitélio intestinal e na regulação positiva de citocinas anti-inflamatórias 1

Por conta desses e de outros tantos benefícios para a flora intestinal, pesquisadores já sugeriram que os probióticos são complementos eficazes na redução da carga bacteriana e no alívio dos sintomas (como dor abdominal e diminuição da concentração de hidrogênio) de pacientes com SIBO 1,7

Além disso, consumir probióticos diariamente pode ser uma medida interessante para tentar instalar algumas bactérias do bem e equilibrar as nocivas6 — até porque o tratamento com antibióticos para SIBO pode causar justamente um dos problemas que está se tentando curar: a diarreia 2

Mas fica aqui um ponto de atenção: é importante que o profissional que está ao lado do paciente avalie a necessidade do uso de probióticos de acordo com cada caso, já que a resposta do organismo de cada paciente com SIBO pode variar 1.

Você também pode gostar de saber: 

Conheça as causas e tratamentos para a infecção intestinal
 

    1. Achufusi TG, Sharma A, Zamora EA et al. Small Intestinal Bacterial Overgrowth: Comprehensive Review of Diagnosis, Prevention, and Treatment Methods. Cureus Journal of Medical Science. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7386065/. Acesso em 31 de janeiro de 2023. 
    2. Mayo Clinic. Small Intestinal Bacterial Overgrowth (SIBO). Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/small-intestinal-bacterial-overgrowth/symptoms-causes/syc-20370168. Acesso em 31 de janeiro de 2023. 
    3. Sorathia SJ, Chippa V, Rivas JM. Small Intestinal Bacterial Overgrowth. Stat Pearls Publishing. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK546634/. Acesso em 31 de janeiro de 2023. 
    4. Healthline. Everything You Should Know About Small Intestinal Bacterial Overgrowth (SIBO). Disponível em: https://www.healthline.com/health/sibo. Acesso em 31 de janeiro de 2023. 
    5. Healthline. SIBO Diet 101: What You Should and Shouldn't Eat. Disponível em: https://www.healthline.com/health/sibo-diet. Acesso em 1 de fevereiro de 2023. 
    6. Cleveland Clinic. (SIBO) Small Intestinal Bacterial Overgrowth. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/21820-small-intestinal-bacterial-overgrowth-sibo. Acesso em 1 de fevereiro de 2023.
    7. Zhong C, Qu C, Wang B et al. Probiotics for Preventing and Treating Small Intestinal Bacterial Overgrowth: A Meta-Analysis and Systematic Review of Current Evidence. Journal of Clinical Gastroenterology. Disponível em: https://journals.lww.com/jcge/Abstract/2017/04000/Probiotics_for_Preventing_and_Treating_Small.4.aspx. Acesso em 1 de fevereiro de 2023.

    MAT-BR-2300597