Acesso à água limpa é um problema no Brasil; entenda o que é água potável e como cuidar de você e dos outros

Existe, sim — e a diferença é das grandes. A água é considerada potável quando é própria para o nosso consumo^2,3, seja para a ingestão, preparo de alimentos ou higiene pessoal².  

Para entender melhor o que é água potável, tenha em mente que ela não tem cor, cheiro, nem sabor. Entretanto, essa água leva uma quantidade específica de sais minerais em sua composição, vitais para a saúde¹. 

A água potável também precisa ser livre de materiais tóxicos e microrganismos, como bactérias e protozoários¹. Em suas regulamentações, inclusive, o Ministério da Saúde destaca que o líquido não deve oferecer riscos à saúde².



E a água pura? Esse é um assunto curioso. Apesar das pessoas terem o costume de associar o termo a uma água de alta qualidade, como se fosse perfeita para o consumo, essa é uma palavra que tem um significado bem diferente, quando pensamos em química³.  

A água pura, em sua essência, é composta apenas por moléculas de água (hidrogênio e oxigênio), nada mais. Não há a presença de outras substâncias, como os sais minerais, por exemplo³. 

Por esse motivo, a água pura é imprópria para o consumo. Para hidratar o nosso corpo, precisamos também dos sais minerais, além das moléculas de hidrogênio e oxigênio³.  

Outro ponto importante é que, ao contrário da água potável, que pode ser encontrada na natureza (e consumida após passar por tratamento)¹, a água pura só é obtida por meio de processos como a destilação, sendo muito usada na fabricação de remédios, por exemplo, justamente por conta de sua pureza⁴.  

Então, por mais que o conceito de água pura soe atraente, lembre-se sempre que é na água potável que você deve mirar para suprir as necessidades do seu organismo^2,3.  

E agora que você já compreendeu o que é água potável — e qual a diferença entre água pura e potável —, vamos avançar nessa conversa?

Com os desafios do acesso à água potável no Brasil e em outras partes do mundo, nem sempre a água chega aos domicílios com o tratamento adequado que a torna próprio para o consumo¹.

Enquanto parte da população tem acesso direto à água de qualidade³, outra parcela acaba fazendo o tratamento doméstico da água⁵, muitas vezes obtida em poços, minas ou nascentes⁶, por exemplo, para poder consumi-la.

Esse procedimento pode ser adotado como medida emergencial, diminuindo os riscos de diarreia e de outras doenças transmitidas a partir do consumo de água imprópria ou contaminada⁵.

Entre os métodos recomendados pelo Ministério da Saúde para melhorar a qualidade da água está a ebulição, processo em que a água, já filtrada com coador de papel ou pano limpo, é fervida por cinco minutos para eliminar vírus, bactérias e parasitas⁷.

Outra possibilidade é desinfetar a água, que não pode ter sido contaminada por esgoto. Para isso, é indicado fazer o mesmo processo de filtração que acabamos de citar e usar duas gotas de hipoclorito de sódio (2,5%) para cada 1 litro de água, deixando-a repousar por, no mínimo, 30 minutos, antes do consumo⁷.

Por mais que acesso à água potável e saneamento básico seja um direito humano, reconhecido pelas Nações Unidas em 2010¹¹, sabemos que, na prática, essa não é a realidade de grande parte da população brasileira¹². 
 
Embora o país detenha uma das maiores reservas de água doce do mundo — 12% de todas as fontes mundiais³ —, são inúmeros os obstáculos enfrentados para que os brasileiros recebam água potável em seus lares:

• falta de saneamento básico: dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil apontam que cerca de 35 milhões de brasileiros não possuem abastecimento de água potável e quase 100 milhões não são atendidos com coleta de esgotos. Para piorar o cenário, apenas 51,2% do volume de esgoto do país é, de fato, tratado¹²; 

• ausência de estrutura longe dos centros urbanos: serviços básicos de água potável e saneamento não chegam a locais como bairros periféricos, onde os habitantes vivem, muitas vezes, em condições precárias¹³. Diversas comunidades indígenas sofrem com isso
  também¹⁴;
• distribuição desigual de água: existem cidades com um potencial hídrico imenso, enquanto outras regiões sofrem com a falta de água. E mesmo quando o recurso é abundante em determinado local, acontece de ser distribuído de forma desigual¹⁵;
• questões climáticas: a irregularidade de chuvas, principalmente no Nordeste do país¹, e as mudanças climáticas aceleradas, provocadas pelo aquecimento global¹⁵, também afetam o abastecimento de água para a população;
• degradação do meio ambiente: tanto o desmatamento quanto a poluição dos rios por dejetos industriais e humanos contribuem para a escassez da água¹⁵;
• crescimento populacional: o consumo de água vem aumentando todos os anos como resultado de mudanças demográficas, e isso desafia a distribuição de água para todos¹.

A falta de água potável e saneamento básico levou 273.403 brasileiros à internação por doenças provocadas pela contaminação da água, além de causar 2.734 mortes em 2019. O levantamento foi feito pelo Instituto Trata Brasil e divulgado no estudo Saneamento e Doenças de Veiculação Hídrica, em setembro de 2021¹⁶. 

Entre as enfermidades mais comuns que surgem com os desafios da falta de acesso à água potável no Brasil estão as doenças diarreicas. Dados de 2022, da Organização Mundial da Saúde, estimam que cerca de 829 mil pessoas morram todos os anos de diarreia devido a condições impróprias da água para consumo e falta de saneamento, além de má higiene, o que leva a contaminações¹¹. 

Falando em mortalidade infantil por diarreia, a OMS calcula que 297 mil crianças menores de cinco anos percam suas vidas por conta desse problema, o que poderia ser evitado com o controle e distribuição de recursos básicos¹¹. 

Outras doenças relacionadas à falta de saneamento e água potável são a cólera, hepatite A, disenteria (diarreia com sangue), febre tifoide, poliomielite¹¹ e dengue¹.

Mais do que saber o que é água potável e quais são os desafios do acesso à água potável no Brasil, é preciso olhar com cuidado para as ações coletivas e individuais que podem ajudar a reverter esse cenário assustador. 

Do lado do governo brasileiro, o Novo Marco Legal do Saneamento, por exemplo, tem como meta atender 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos até 2033⁵. 

Mas nós, cidadãos, também podemos fazer a nossa parte e contribuir ao preservar rios e mananciais, valorizar e exigir educação ambiental nas escolas e comunidades, monitorar vazamentos internos¹⁷ e, claro, evitar o desperdício de água no dia a dia¹.

Tomar banhos curtos, trocar a mangueira pela vassoura na hora de limpar o quintal, manter a torneira fechada ao escovar os dentes e lavar a louça e até reutilizar a água da chuva na limpeza de casa são atitudes simples, mas muito úteis para evitar a escassez¹. 

Para a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul, também é nosso dever denunciar as práticas de despejo dos esgotos sem tratamento em rios e córregos¹⁷.